Nosso encontro foi na última sexta-feira, por volta das 10h da manhã, quando fui à vice-reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) solicitar ajuda de custo para minha viagem a Curitiba, no próximo mês de setembro. Fui informada por ele que, por impedimentos jurídicos, a Ufal não poderia me auxiliar, já que o vínculo institucional foi quebrado. Em palavras mais claras: já me formei e já cancelei meu número de matrícula. E qualquer ajuda financeira a quem não tem vínculo institucional com a universidade poderia ser mal vista por uma possível auditoria. Entendi.
De qualquer forma, ele, Eurico Lôbo, vice-reitor da Ufal, garantiu que tentará articular a ajuda com outro órgão de fomento à Educação, o que inclui a Secretaria Estadual de Educação. Até lá, torço por alguma resposta positiva que me permita apresentar meu Trabalho de Conclusão de Curso – Livro-reportagem: Por trás dos muros – ao público do Intercom 2009.
Claro, aproveitei a ocasião para fazer uma rápida entrevista com o vice-reitor. Inicialmente hesitante – por causa de problemas que já teve com estudantes que teriam distorcido as falas dele – Eurico Lôbo aceitou responder algumas perguntas, diante de meu encarecido pedido: “Mas o senhor não vai negar uma entrevista a uma profissional que acabou de se formar na universidade da qual o senhor é vice-reitor, não é?”.
Reeleito para o cargo de vice-reitor em 2007, ele criticou a recente decisão do STF que suspendeu a exigência do diploma em Comunicação Social para exercer atividades jornalísticas, falou sobre a abertura de novos cursos de graduação na Ufal em 2010 e até brincou quando questionado sobre as semelhanças físicas com o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush e o astro hollywoodiano Richard Gere.
Enfim, o tempo era curto, as questões foram poucas, mas as respostas estão aí, tais como foram ditas [bem-vindo gravador!]. Leitores do Fala Cassilda!, fiquem à vontade para comentar!
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“O DIPLOMA PARA JORNALISMO É ESSENCIAL”
Fala Cassilda: Enquanto vice-reitor da Ufal, como o senhor recebeu a sentença do STF que pôs fim à obrigatoriedade do diploma em Comunicação Social para o exercício do Jornalismo?
Eurico Lôbo: Eu tenho o entendimento de que existem, dentro das diferentes áreas de conhecimento, as especificidades de cada uma dessas áreas na execução das atividades inerentes. Eu entendo que a obrigatoriedade do diploma para a atuação no Jornalismo é importante, porque ela não pode ser diferenciada das demais carreiras, onde se faz os registros, onde se tem a necessidade de diplomas específicos, eu não vejo diferente. Evidentemente que, dentro do Jornalismo, têm aquelas questões relacionadas a matérias específicas, que exigem domínio de conhecimentos específicos. Mas, uma vez essas questões sendo resolvidas, é importante que os jornalistas tenham a garantia de sua atuação.
FC: Importante ou essencial?
EL: Essencial. Eu acho que sim.
FC: Quais as possíveis consequências dessa decisão do STF para as escolas de Comunicação do Brasil?
EL: Eu acho que um debate se abre com relação a isso, acho que é importante que as universidades tenham a possibilidade de reduscutir isso. É algo que tem um posicionamento maior do STF, mas eu acho importante que esse debate exista, porque se nós imaginarmos o conjunto da sociedade brasileira, o número de escolas que possuem cursos de Jornalismo, isso pode ter um impacto muito grande, como o desestímulo dentro da carreira. Isso precisa ser rediscutido.
FC: Uma das previsões de quem enxerga a decisão do STF de forma positiva é que agora as escolas de Comunicação tendem a melhorar significativamente em qualidade. O senhor concorda?
EL: Não sei, não vejo necessariamente isso. Acho que a melhoria dos cursos é fruto de um engajamento daqueles que fazem o curso, junto com a direção central das universidades. A melhoria eu vejo pela produção acadêmica, pelo engajamento dos professores e dos estudantes, na construção do curso. Não é uma mera decisão de cima para baixo, uma determinação que venha da Justiça, que possa interferir necessariamente nisso.
FC: E sobre a Ufal, especificamente, o senhor acredita que o número de candidatos ao vestibular para Jornalismo deve diminuir?
EL: Não tenho elementos hoje para definir isso. Acho que dentro dos cursos de Comunicação a discussão dessa temática deveria voltar à tona. Evidentemente que tudo precisa ser entendido de uma forma mais clara pela maioria: os impactos, as implicações disso, não só no processo de formação mas também na expectativa daqueles que estão cursando. É presciso discutir, é um tema de muita abrangência.
FC: Mudando um pouco de assunto, a Ufal está passando por uma śerie de reformas, virou “um canteiro de obras”, como a sua própria gestão costuma dizer. Já ouvi falar até em construção de restaurante vegetariano. O que de fato vem por aí?
EL: Restaurante para vegetarianos eu confesso que não sei. Nós temos nutricionistas que tratam especificamente a alimentação dos estudantes e estamos trabalhando num projeto de ampliação do restaurante universitário. Nós temos crescido muito a nossa estrutura física, ampliando salas, criando novos blocos para diferentes faculdades. Isso é uma nessessidade do crescimento da universidade, que vem se renovando. Nos últimos dois anos contratamos mais de 300 professores, houve uma ampliação bastante expressiva do número de professores e de estudantes, hoje temos 65 cursos. É uma universidade que praticamente duplicou todos os seus números e ela precisa atender a esses desafios.
FC: Mas e as construções, o que são exatamente?
EL: Nós temos vários projetos em execução: um bloco para o curso de Química, outro para Física, outro para Matemática, estamos estruturando agora a Feac [Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade], mais um projeto programado para a Faculdade de Letras, outro para Medicina, também para o ICB [Instituto de Ciências Biológicas], para a Copeve [Comissão Permanente do Vestibular] – que é a nossa estrutura administrativa que realiza os nossos concursos – da Coordenação de Educação a Distância, enfim, um conjunto de obras que a universidade vem fazendo para atender à demanda crescente.
FC: E sobre os novos cursos? O senhor havia nos dito, logo no início de 2009, que novos cursos seriam abertos na Ufal. Isso realmente vai acontecer em 2010?
EL: Toda a programação que foi feita junto as diferentes unidades acadêmicas está em andamento. Agora para 2010, o que está previsto são os cursos de expansão de Delmiro Gouveia. Agora mesmo eu estava reunido com a coordenação desses cursos, nós já estamos com os projetos pedagógicos prontos, os laboratórios, já estamos em processo de contratação de docentes…
FC: Que cursos são esses?
EL: Nós teremos cerca de oito cursos lá em Delmiro: dois cursos na área de engenharia – Engenharia Civil e Engenharia de Produção -, também no eixo gestão Ciências Contábeis e Economia, Licenciatura de História, Geografia, enfim… Nós estamos trabalhamos nesses projetos, o projeto do prédio já está pronto, estamos em fase de processar as questões de natureza jurídica, licitação, aquela coisa toda… Mas com a perspectiva de em 2010 iniciarmos Delmiro de forma já muito bem estrutura.
FC: É um novo campus?
EL: Isso, é um novo campus e o vestibular já [está previsto] para 2009 para começar [os cursos] em 2010, essa é a previsão. Inclusive nós estamos já com edital já para contratação de professores para Delmiro.
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EM POUCAS PALAVRAS…
NOME COMPLETO: Eurico de Barros Lôbo Filho
IDADE: 52 anos
NATURALIDADE: Recife, Pernambuco
FORMAÇÂO ACADÊMICA: Graduado em Química (UNB) e Doutor em Polímeros (Universidade Du Maine, França)
FAMÍLIA: Casado, dois filhos
O QUE FAZ QUANDO NÃO É VICE-REITOR: Adoro estar com a minha família, gosto de jardinagem, de jogar tênis, gosto de ler, enfim, de fazer aquelas coisas que são prazerosas…
GOVERNO NEOLIBERAL: Sou adepto de uma sociedade livre, democrática, onde as pessoas tem a liberdade de se expressar, e dizer claramente: eu quero uma sociedade onde todos possam ter direitos iguais
O SENHOR JÁ FOI COMPARADO, POR SUPOSTAS SEMELHANÇAS FÍSICAS, AO EX-PRESIDENTE DOS EUA, GEORGE W. BUSH, E AO ASTRO HOLLYWOODIANO RICHARD GERE. QUAL COMPARAÇÃO AGRADA MAIS?
(risos) São coisas distintas. Uma seguramente não me agrada, que é o George W. Bush, até porque não tenho nenhuma semelhança com ele, nem do ponto de vista político-ideológico, nem mesmo fisicamente. O Richard Gere é mais uma brincadeira, talvez pelos meus cabelos brancos (mais risos).