Na Revista (in)visível

A edição número 2 da revista (in)visível aborda a loucura sob diferentes aspectos e leituras. Um dos textos selecionados para a edição, lançada em abril de 2014, foi um dos capítulos do livro-reportagem “Por Trás dos Muros”, que conta a história de Manoel. A revista é uma produção luso-brasileira independente e autoriza a livre reprodução do seu conteúdo. Vale conferir!

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Capa

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Crítica da razão tupiniquim

Levar a sério, seja um trabalho, um lugar ou um amor, não consiste no zelo pela vigência de normas sociais. Ao contrário. (…) A sério, revigoro o mundo com uma quantidade imensa de significações. Sério, reduzo-me a objeto morto, caricato, de existir centrado no externo.

(Roberto Gomes, em Crítica da Razão Tupiniquim)

Ontem (02) encontrei com duas estudantes de Jornalismo da Ufal, Natália e Janine, esta última já conhecida. O papo deveria girar em torno do processo de produção do livro-reportagem “Por trás dos Muros”, mas acabou se estendendo a diversos outros assuntos, da exigência do diploma para exercer o Jornalismo ao perfil das novas turmas que povoam o curso.

Em tempo: no último dia 06 de setembro “Por trás dos muros” venceu, na categoria livro-reportagem, a etapa nacional da Expocom (Exposição de Pesquisas Experimentais em Comunicação), prêmio concedido pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação). E eu, claro, estava lá em Curitiba para receber o troféu, junto a pessoas queridas. Pena que o quebrei sem querer, ao derrubar o pobre da mesa. Caiu no chão e se partiu em dois. Ainda não comprei uma boa cola para reparar o dano, mas torço que isso seja suficiente.  [Confira aqui trechos do trabalho e os vencedores da Expocom 2009].

Olha aí o troféu ainda inteiro

Olha aí o troféu ainda inteiro

Transtorno à parte, a notícia do prêmio, até então inédito na Ufal (alguém tem informação contrária? comente abaixo!), inspirou as estudantes a produzir uma matéria para o novo jornal-laboratório que a comunidade acadêmica desenvolve, ainda sem nome. Quem ficou incubida de me telefonar para fazer o convite para a entrevista foi a Natália e logo pensei: UAU! QUE CHIQUE! 8)

Mas desconfio que toda a “chiqueza” da coisa foi ao chão logo em uma das primeiras perguntas: “Como foi a estudante Acássia?”.

– Xiiii…

Bom, preferi ser sincera. Disse a verdade: não fui o que se pode chamar de uma estudante brilhante. Tudo bem, a maioria dos professores e a estrutura do curso de Comunicação da Ufal não ajudaram nem um pouco, mas eu poderia ter produzido mais. Muito mais, eu diria. Assim como para a maioria dos estudantes que passam por lá, creio que me faltou foco durante o curso.

Foco que descobri apenas no último ano de estudos, justamente ao desenvolver “Por trás dos muros”, um trabalho produzido com afinco, cuidado e muita responsabilidade. Não à tôa, um trabalho reconhecido pela Intercom. Orgulho-me.

Por outro lado, conversamos Natália e eu – enquanto Janine fazia cliques por vários ângulos -, aproveitei muito o que a universidade pôde me dar. Falo da parte lúdica, das relações humanas, da quebra de preconceitos, de conhecer e dialogar com outras realidades, coisa que me fascina há tempos. E coisa também que, creio, estudantes da “nova” geração não estão aproveitando como deveriam, na disputa precoce por estágios e visibilidade profissional. Uma impressão compartilhada com minha entrevistadora.

Ao fim da conversa, uma revelação. Em outras palavras:

“Acássia, imaginei que você era uma pessoa seríssima, cisuda”

E aí logo lembrei de um livro lido no primeiro ano do curso de Jornalismo, para a disciplina de Filosofia, então orientada pelo professor Fernando Ayres. O livro chama-se “Crítica da Razão Tupiniquim”, escrito pelo também filósofo Roberto Gomes. Ao defender a falta de personalidade da filosofia brasileira, Gomes ressalta: para ter seriedade, não é preciso ser sério, no sentido de normas e convenções sociais. Basta se levar a sério e levar as coisas a sério também.

Foi uma das lições que ficaram da universidade. Agora é esperar para ver o trabalho da Natália e da Janine publicado. Desde já, agradeço pelo convite e espaço disponibilizado. 😉

Vice-reitor da Ufal fala sobre diploma de Jornalismo e outros assuntos [ENTREVISTA]

Nosso encontro foi na última sexta-feira, por volta das 10h da manhã, quando fui à vice-reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) solicitar ajuda de custo para minha viagem a Curitiba, no próximo mês de setembro. Fui informada por ele que, por impedimentos jurídicos, a Ufal não poderia me auxiliar, já que o vínculo institucional foi quebrado. Em palavras mais claras: já me formei e já cancelei meu número de matrícula. E qualquer ajuda financeira a quem não tem vínculo institucional com a universidade poderia ser mal vista por uma possível auditoria. Entendi.

De qualquer forma, ele, Eurico Lôbo, vice-reitor da Ufal, garantiu que tentará articular a ajuda com outro órgão de fomento à Educação, o que inclui a Secretaria Estadual de Educação. Até lá, torço por alguma resposta positiva que me permita apresentar meu Trabalho de Conclusão de Curso – Livro-reportagem: Por trás dos muros – ao público do Intercom 2009.

Claro, aproveitei a ocasião para fazer uma rápida entrevista com o vice-reitor. Inicialmente hesitante – por causa de problemas que já teve com estudantes que teriam distorcido as falas dele – Eurico Lôbo aceitou responder algumas perguntas, diante de meu encarecido pedido: “Mas o senhor não vai negar uma entrevista a uma profissional que acabou de se formar na universidade da qual o senhor é vice-reitor, não é?”.

Reeleito para o cargo de vice-reitor em 2007, ele criticou a recente decisão do STF que suspendeu a exigência do diploma em Comunicação Social para exercer atividades jornalísticas, falou sobre a abertura de novos cursos de graduação na Ufal em 2010 e até brincou quando questionado sobre as semelhanças físicas com o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush e o astro hollywoodiano Richard Gere.

Enfim, o tempo era curto, as questões foram poucas, mas as respostas estão aí, tais como foram ditas [bem-vindo gravador!]. Leitores do Fala Cassilda!, fiquem à vontade para comentar!

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“O DIPLOMA PARA JORNALISMO É ESSENCIAL”

Fala Cassilda: Enquanto vice-reitor da Ufal, como o senhor recebeu a sentença do STF que pôs fim à obrigatoriedade do diploma em Comunicação Social para o exercício do Jornalismo?

Eurico Lôbo: Eu tenho o entendimento de que existem, dentro das diferentes áreas de conhecimento, as especificidades de cada uma dessas áreas na execução das atividades inerentes. Eu entendo que a obrigatoriedade do diploma para a atuação no Jornalismo é importante, porque ela não pode ser diferenciada das demais carreiras, onde se faz os registros, onde se tem a necessidade de diplomas específicos, eu não vejo diferente. Evidentemente que, dentro do Jornalismo, têm aquelas questões relacionadas a matérias específicas, que exigem domínio de conhecimentos específicos. Mas, uma vez essas questões sendo resolvidas, é importante que os jornalistas tenham a garantia de sua atuação.

FC: Importante ou essencial?

EL: Essencial. Eu acho que sim.

FC: Quais as possíveis consequências dessa decisão do STF para as escolas de Comunicação do Brasil?

EL: Eu acho que um debate se abre com relação a isso, acho que é importante que as universidades tenham a possibilidade de reduscutir isso. É algo que tem um posicionamento maior do STF, mas eu acho importante que esse debate exista, porque se nós imaginarmos o conjunto da sociedade brasileira, o número de escolas que possuem cursos de Jornalismo, isso pode ter um impacto muito grande, como o desestímulo dentro da carreira. Isso precisa ser rediscutido.

FC: Uma das previsões de quem enxerga a decisão do STF de forma positiva é que agora as escolas de Comunicação tendem a melhorar significativamente em qualidade. O senhor concorda?

EL: Não sei, não vejo necessariamente isso. Acho que a melhoria dos cursos é fruto de um engajamento daqueles que fazem o curso, junto com a direção central das universidades. A melhoria eu vejo pela produção acadêmica, pelo engajamento dos professores e dos estudantes, na construção do curso. Não é uma mera decisão de cima para baixo, uma determinação que venha da Justiça, que possa interferir necessariamente nisso.

FC: E sobre a Ufal, especificamente, o senhor acredita que o número de candidatos ao vestibular para Jornalismo deve diminuir?

EL: Não tenho elementos hoje para definir isso. Acho que dentro dos cursos de Comunicação a discussão dessa temática deveria voltar à tona. Evidentemente que tudo precisa ser entendido de uma forma mais clara pela maioria: os impactos, as implicações disso, não só no processo de formação mas também na expectativa daqueles que estão cursando. É presciso discutir, é um tema de muita abrangência.

FC: Mudando um pouco de assunto, a Ufal está passando por uma śerie  de reformas, virou “um canteiro de obras”, como a sua própria gestão costuma dizer. Já ouvi falar até em construção de restaurante vegetariano. O que de fato vem por aí?

EL: Restaurante para vegetarianos eu confesso que não sei. Nós temos nutricionistas que tratam especificamente a alimentação dos estudantes e estamos trabalhando num projeto de ampliação do restaurante universitário. Nós temos crescido muito a nossa estrutura física, ampliando salas, criando novos blocos para diferentes faculdades. Isso é uma nessessidade do crescimento da universidade, que vem se renovando. Nos últimos dois anos contratamos mais de 300 professores, houve uma ampliação bastante expressiva do número de professores e de estudantes, hoje temos 65 cursos. É uma universidade que praticamente duplicou todos os seus números e ela precisa atender a esses desafios.

FC: Mas e as construções, o que são exatamente?

EL: Nós temos vários projetos em execução: um bloco para o curso de Química, outro para Física, outro para Matemática, estamos estruturando agora a Feac [Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade], mais um projeto programado para a Faculdade de Letras, outro para Medicina, também para o ICB [Instituto de Ciências Biológicas], para a Copeve [Comissão Permanente do Vestibular] – que é a nossa estrutura administrativa que realiza os nossos concursos – da Coordenação de Educação a Distância, enfim, um conjunto de obras que a universidade vem fazendo para atender à demanda crescente.

FC: E sobre os novos cursos? O senhor havia nos dito, logo no início de 2009, que novos cursos seriam abertos na Ufal. Isso realmente vai acontecer em 2010?

EL: Toda a programação que foi feita junto as diferentes unidades acadêmicas está em andamento. Agora para 2010, o que está previsto são os cursos de expansão de Delmiro Gouveia. Agora mesmo eu estava reunido com a coordenação desses cursos, nós já estamos com os projetos pedagógicos prontos, os laboratórios, já estamos em processo de contratação de docentes…

FC: Que cursos são esses?

EL: Nós teremos cerca de oito cursos lá em Delmiro: dois cursos na área de engenharia – Engenharia Civil e Engenharia de Produção -, também no eixo gestão Ciências Contábeis e Economia, Licenciatura de História, Geografia, enfim… Nós estamos trabalhamos nesses projetos, o projeto do prédio já está pronto, estamos em fase de processar as questões de natureza jurídica, licitação, aquela coisa toda… Mas com a perspectiva de em 2010 iniciarmos Delmiro de forma já muito bem estrutura.

FC: É um novo campus?

EL: Isso, é um novo campus e o vestibular já [está previsto] para 2009 para começar [os cursos] em 2010, essa é a previsão. Inclusive nós estamos já com edital já para contratação de professores para Delmiro.

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EM POUCAS PALAVRAS…

(foto: Ascom/Ufal)

Eurico Lôbo Filho (foto: Ascom/Ufal)

NOME COMPLETO: Eurico de Barros Lôbo Filho
IDADE: 52 anos
NATURALIDADE: Recife, Pernambuco
FORMAÇÂO ACADÊMICA: Graduado em Química (UNB) e Doutor em Polímeros (Universidade Du Maine, França)
FAMÍLIA: Casado, dois filhos
O QUE FAZ QUANDO NÃO É VICE-REITOR: Adoro estar com a minha família, gosto de jardinagem, de jogar tênis, gosto de ler, enfim, de fazer aquelas coisas que são prazerosas…
GOVERNO NEOLIBERAL: Sou adepto de uma sociedade livre, democrática, onde as pessoas tem a liberdade de se expressar, e dizer claramente: eu quero uma sociedade onde todos possam ter direitos iguais
O SENHOR JÁ FOI COMPARADO, POR SUPOSTAS SEMELHANÇAS FÍSICAS, AO EX-PRESIDENTE DOS EUA, GEORGE W. BUSH, E AO ASTRO HOLLYWOODIANO RICHARD GERE. QUAL COMPARAÇÃO AGRADA MAIS?
(risos) São coisas distintas. Uma seguramente não me agrada, que é o George W. Bush, até porque não tenho nenhuma semelhança com ele, nem do ponto de vista político-ideológico, nem mesmo fisicamente. O Richard Gere é mais uma brincadeira, talvez pelos meus cabelos brancos (mais risos).

“Por trás dos muros” em PDF

A leveza com que trata o tema tão denso consegue criar uma afeição nos leitores por um lugar que, geralmente, é associado a um ambiente sombrio e que deve ser evitado. Sentimento esse, que ao terminar de ler a obra, é anulado por uma curiosidade em ver de perto a realidade vivida por essas pessoas.

Acima, um trecho da crítica que o jornalista Estevão dos Anjos fez sobre meu recém-criado – e ainda não lançado – livro-reportagem, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo, na Ufal.

Abaixo, os links para a crítica na íntegra e para parte do livro em PDF:

Crítica: “Derrubando preconceitos”

Por trás dos muros em PDF

TCC: finalmente

Entrar em um hospital psiquiátrico é assustador para muita gente. Gente que só ouviu falar de ‘loucos’ pela televisão, pelos jornais, pela igreja, pelos vizinhos. Não é para menos. Ao longo da história, a loucura vem sendo tratada como algo perverso, merecedora de exclusão.

Provavelmente, no entanto, se o primeiro contato com o mundo da loucura fosse em um teatro, atravessar esses muros nãos causasse tanto pavor. Quem sabe, até se tornaria motivo de encanto…

Capa "Por trás dos muros"

Depois de seis meses de trabalho, sendo quatro de pesquisa de campo, e após alguns tostões desperdiçados por causa de correria característica, meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) está pronto para ser avaliado por profissionais da Comunicação Social.

O trabalho, que se propõe ser um livro-reportagem, foi batizado “Por trás dos muros” e busca apresentar o cotidiano e os personagens de um hospital psiquiátrico alagoano, o Portugal Ramalho.

Quem quiser espiar a apresentação (discretamente, claro!), é só aparecer na sala de Recursos Audiovisuais do bloco de Comunicação Social da Ufal, na próxima quinta-feira (19), às 16h.

Depois disso, é bem provável que eu esteja a um passo de modificar a minha descrição no blog… o.O