Fênix

Estou aprendendo a ser simpática. Melhor: tentando.

Eu vejo amigos desconsiderando amigos e famílias renegando famílias.

Vejo ônibus lotados, pessoas espremidas, crianças sujas e desdentadas se espremendo entre os espremidos tentando ganhar alguma grana, seja lá para que ou para quem seja. Elas cantam, sorriem, atraem risos. Só não entendo do que exatamente riem.

Vejo trânsito caótico, barulho infernal, motores rangendo a 20 km/h e gente correndo para aproveitar a redução do IPI. Pelo menos na pista são os carros que se espremem. Não há suor corpo a corpo. De qualquer forma, melhor garantir o lugar ao sol com ar condicionado.

Observo minha conta bancária emagrecer cada vez que engorda um pouco. Não lembro de ter aplicado a ela qualquer receita de dieta rápida, mas acontece. Ainda bem que sei usar o caixa eletrônico, a senhora que vi ontem na agência mal sabia o próprio nome.

Nas escolas o “bêabá” virou expressão de um fonema só, com eco duplo: tatatá!

Nos hospitais… óbitos. Sem flores. Sem pêsames.

Mas me dizem que tenho que sorrir mais. Algo como Louis Armstrong cantou:  “I hear babies cry, I watch them grow, they’ll learn much more, than I’ll never know, and I think to myself, what a wonderful world!”.

Estou tentando. Comecei cancelando uma das minhas contas bancárias. E fui soltar pipa na praia. Sorri quando ela subiu lá bem alto. Deu pra ver nitidamente o desenho estampado no fundo verde limão: uma fênix.

(Foto de Amanda Duarte)

Feliz 2010 a todas e todos que passarem por aqui!